A Luz Vermelha
Meu
celular tocou, era a enfermeira do asilo, “sua mãe acabou de falecer.” Eu não
podia abandonar o posto na portaria do prédio, pois estava sozinho. Assim
sendo, esperei o porteiro da manhã chegar.
Com
um salário de fome, nunca me foi possível mantê-la em casa sob os cuidados de
uma enfermeira. Nos meus cinquenta e três anos de vida só consegui comprar o
Escort e uma casa simples num bairro miserável.
No
final de agosto de 97, minha mãe começou a ter breves delírios, piorando menos
de seis meses depois. Vieram os remédios, as contas, e então precisei mandá-la
para a casa de repouso após alguns anos.
Entrei
no asilo e senti o ar gélido dançando no corredor. A porta do quarto se
encontrava aberta e sobre a cama estavam suas roupas dobradas e uma caixa de
papelão lacrada com durex. A enfermeira entrou e me deu a ficha para preencher.
Resolvi levar apenas a caixa. Ao entrar no carro, antes mesmo de fechar a
porta, um rapaz se aproximou, me deu os pêsames e disse ser da funerária,
deixando a confirmação de que o mundo só gira porque tem uma cartela de
clientes. Resolvi metade das burocracias ali mesmo. Comprei uma garrafa de uísque
barato e voltei pra casa. Liguei a televisão na sala e me inclinei na poltrona.
Minha
mãe teve uma vida difícil, rompeu com a família aos vinte anos pra me criar
sozinha. Sua felicidade era tão moribunda que não conseguia se esconder nas expressões
do dia. Nunca me disse nada sobre o meu pai, sendo o motivo pelo qual, na
adolescência, eu a tratava mal.
No
velório, além de mim, havia apenas o padre. Nada de parentes. Nem mesmo os que
só encontramos em momentos fúnebres.
Fiz
as compras do mês e somente ao abrir o porta-malas percebi a caixa. Retirei
seus pertences ao voltar pra casa. Havia uma bíblia antiga com marcas de mofo,
um maço de folhas rabiscadas, um livro qualquer sobre Física quântica, um
porta-joias oxidado, um caderno e um álbum de Polaroides velhas. A primeira
mostrava uma garota sorrindo de lado para a câmera, cabelo ao vento, sentada na
pedra e as ondas do mar ao fundo. Era minha mãe com seu sorriso tímido. Havia
vida. Retirei-a do plástico, no verso estava a data: verão de 66. Tinha
dezenove anos. A foto ao lado era a de um jovem, também na praia, aparentava
ter a mesma idade. Magro, com um penteado estilo jovem guarda, mostrava os
músculos na tentativa de ser engraçado. O verso indicava a mesma data. As fotos
seguintes eram os dois em shows, ônibus, museus, praças e uma outra em que
pichavam o símbolo da anarquia no capô de um Jeep militar. Sempre abraçados, de
mãos dadas ou se beijando. Seria ele o meu pai? O que aconteceu? Quando a
vivacidade de minha mãe se esvaiu?
Abri
seu caderno, era um diário, começava com frases datadas de agosto de 1958. Nada
de mais, apenas sobre os afazeres da casa, a costura de bonecas e planos para o
futuro. Era religiosa, um Salmo no canto de cada página. Aos treze teve dúvidas
se colar na prova era pecado. Aos catorze, um acidente de bicicleta e um amor
platônico. Festa de quinze anos. Aos dezesseis é praia, aprende a tocar violão,
trabalha numa lanchonete e gasta o dinheiro em discos da época. Aos dezessete
conhece Edson, aluno novo da escola técnica, tornam-se amigos no grêmio
estudantil. Aos dezoito, os dois começam a namorar em segredo, período em que
os Salmos dão lugar a passagens de Bakunin e Guy Debord. Aos dezenove parece
ser o ápice do relacionamento, não namoram mais escondido e fazem planos de
noivado. Pensam em montar uma oficina mecânica, vão à praia, lanchonete,
reuniões e panfletagem contra a ditadura. A última página do diário é sobre a
noite que assistirão à final do segundo Festival da Música Popular Brasileira,
no dia 10 de outubro de 1966, data combinada para dormirem na casa dela, pois
os pais viajaram a um retiro. O que me intriga é o fato de o diário acabar
restando vinte páginas. Nasci no dia 8 de julho de 1967. Edson é meu pai?
Levei
os pertences de minha mãe ao trabalho e lá revi as fotos e reli o diário
algumas vezes. No maço de folhas havia anotações sobre o livro de Física
quântica. Encontrei um lembrete no canto de uma página: “perguntar ao
professor”. O autor lecionava na universidade federal. Encontrei o e-mail dele
no site da instituição e anexei uma foto dela com uma mensagem perguntando se a
conheceu.
Parte
do dia seguinte foi pesquisar na internet por notícias em relação à última data
no caderno. Encontrei matérias extensas sobre os vitoriosos do festival da
música e uma nota curta sobre dois estudantes presos em uma revista no ônibus.
Procurei pelos nomes. Eram garotos e nenhum se chamava Edson.
Procurei
pelo álbum de formandos no site da escola técnica. Os Edsons que encontrei não
se pareciam com o da foto. Em pouco tempo me vi atormentado a procurá-lo. Até
considerei pedir ajuda à produção de algum programa de TV. Me colocariam para
chorar, eu teria de voltar outras vezes, haveria um mistério, um drama sem fim,
eu abriria o coração, e no fim, surge uma fila de velhos, eu preciso adivinhar
qual deles é o meu pai. Enquanto escolho, Edson rasteja os pés atrás de mim, eu
me viro, a gente se abraça, a banda toca, todo mundo chora, a plateia aplaude e
vem o comercial do café danado de bom pra família brasileira.
Acho
melhor buscar outro jeito.
Uma
semana depois recebi a resposta do professor, pediu que eu o procurasse na
lanchonete do laboratório de Física, no período da manhã. Esperei o fim do
turno e segui para a universidade. O acadêmico era uns vinte anos mais velho do
que aparentava na foto do livro. Estávamos à mesa, o professor mordia um
sanduíche colorido. Disse que minha mãe o procurou há mais de vinte anos
querendo saber sobre viagem no tempo. Estranhei a temática, por isso pedi para
me explicar melhor.
—
Não é uma viagem da forma como muitos pensam. Essas coisas de máquina e naves
que vão na velocidade da luz é besteira. A viagem está aqui. — Apontou para a
minha cabeça — Não é algo simples. Viajar requer disciplina acima de tudo. O
passado deve ser apenas observado.
—
Então não tem diferença de uma terapia regressiva.
—
O senhor já fez terapia regressiva ou viajou no tempo? — perguntou.
—
Nunca.
—
Então não sabe do que está falando. Sua mãe não queria tratar um problema,
queria eliminar. Me procurou no fim de agosto de 1997. Ela estava com muito
medo pra...
—
Eu estou à procura do meu pai. Acho que é o homem que namorava a minha mãe. Mas
sinceramente, pode ser que o senhor só tenha feito ela piorar...
—
Pare! Ela nunca chegou aonde queria, porque encerraram as verbas do projeto.
Entrei
no carro. Toda pista que eu encontrava parecia me distanciar ainda mais de uma
resposta. Não era só sobre o meu pai, eu queria saber também da minha mãe. Um
forte nervosismo começou a tomar conta, a respiração cortava o peito, as mãos
tremiam ao apertar o volante. Gritei por dentro, um grito que só eu podia
ouvir. Soquei o painel, esperei me acalmar e me recostei no banco.
Despertei
assustado com pequenas batidas na janela, era o professor. Acima dele, um céu
lilás de fim de tarde. Desci o vidro.
—
Me siga. Quem sabe você encontre alguma resposta.
Abri
a porta para sair, mas pediu que eu acompanhasse o carro dele. Percorremos por
menos de meio quilômetro depois da universidade, entramos num edifício residencial
e subimos até a cobertura. As paredes de seu apartamento eram revestidas com
isolamento acústico e ao centro havia uma espécie de cápsula aberta.
—
O senhor mora aqui?
—
É claro que não. Transferi meus equipamentos quando a universidade cancelou o projeto.
Você ficou com o diário e o álbum dela? Vai ajudar.
—
Sim, eu tenho. Pra que serve a cápsula?
—
É uma câmara de privação sensorial. A única forma de se viajar no tempo é pela
projeção.
—
E a gente pode fazer isso agora?
—
Não, de jeito nenhum. É um processo que leva dias, até semanas. Pode ser também
que nunca aconteça. É um trabalho em conjunto, mas depende muito mais de você
do que de mim.
O
professor pediu para eu voltar no dia seguinte com o material de apoio, se
estivesse certo do que queria. Passei a noite na portaria revendo as fotos e
relendo partes do diário. Me senti mais íntimo da paixão de meus pais. Procurei-o
no dia seguinte e seguimos para o seu apartamento. Na sala, a câmara emanava um
azul fosco.
—
Como eu havia dito ontem, o passado deve apenas ser observado, qualquer
alteração pode provocar sérios danos ao voltar. Existe a possibilidade de que
possa ser criado um universo para cada ação. Nunca arrisquei mudar nada em
minhas viagens, portanto não posso garantir como as coisas serão, caso você dê
um passo em falso...
Toquei
a água na câmara, estava fria para a época do ano, mas então o professor me
disse que a temperatura iria se igualar ao estado do meu corpo, até eu não perceber
mais a presença dela. Usei um fone que cobria os ouvidos, era macio suficiente
para eu não senti-lo. A luz ao redor foi cessando até desaparecer. Fechei os
olhos e passei a ouvir um incômodo tilintar, alterando-se a um conjunto de
ruídos em minha mente. Fiquei sonolento e com o corpo se movendo involuntário feito
uma onda. Uma luz se formou diante da vista, me forçando a abrir os olhos. A
câmara foi destravada. O professor me deu a toalha para eu me secar.
—
Já terminamos? Tão rápido assim?
—
Você ficou exatamente três horas ali dentro. A impressão curta de tempo ocorre
ao se desconectar. Volte amanhã. Passarei a noite preparando o material de
apoio para a sua viagem. O álbum de fotos dela vai ser de grande importância.
Senti
a projeção evoluir nos dias seguintes. Cada vez que eu entrava na câmara, era
acrescentada uma nova fórmula de complemento. Na terceira semana, bebi um
líquido viscoso, meio ocre e amargo. Pus um capacete de fone acoplado e com
película cobrindo os olhos. Na câmara estava um projetor minúsculo.
—
Você vai receber uma pequena carga de vibração acima da cabeça. — Ouvi sua voz
pelo fone — Não se assuste, isso vai estimular seu giro angular.
Diante
de mim surgiu ampliada uma das fotos do álbum de minha mãe. Ela e meu pai se
abraçavam no meio de uma plateia. Ao fundo estava o palco, e nele, Jair
Rodrigues erguendo Chico Buarque. Havia mais alguns músicos que não consegui
identificar.
—
É 10 de outubro de 1966. — disse o professor — Você está no teatro e ouve os
aplausos da plateia. Não há tensão, seu corpo está relaxado. Todos estão
felizes. Sua mãe e seu pai sorriem abraçados e é 10 de outubro de 1966...
Ouvi
o ruído incômodo da junção dos sons. Concentrei os olhos para um ponto ao lado
de meus pais, próximo a uma poltrona. Os membros formigavam, a cabeça vibrava.
Aos poucos deixei de me sentir. A imagem se movia num borbulho de pequenos
deslocamentos, aproximando-se como um relevo diante de mim. A sonolência fechou
minha vista, mas a imagem continuava a se mover. Eu enxergava de olhos
fechados.
—
É 10 de outubro de 1966. Você veste terno, assim como as pessoas ao seu redor.
Eles vibram. No palco, os músicos preparam os violões...
Virei
a cabeça e vi meus pais, eu estava lá, mas minha existência era leve. Me
aproximei deles sem perceber que caminhava. Por um momento, minha mãe olhou para
o palco, quando Jair Rodrigues cantou o primeiro verso de Disparada. Meu pai a
beijou na testa. Ela sorria com os olhos. Passei pelas pessoas sem senti-las. A
queixada de burro foi tocada no palco, o público se extasiou em curto assobio.
Por uma breve fração, meu pai e eu nos olhamos. Foi suficiente para eu perceber
a respiração. Não era mais essência, eu tinha um corpo e as papilas deslizavam
na textura do terno.
Após
o fim da música, o público começou a vaiar as palavras da apresentadora. A
cortina desceu, era o fim do espetáculo. As pessoas se amontoaram pelo
corredor, todos na mesma direção de saída e eu os perdi de vista.
Deixei
o teatro e cheguei à rua da Consolação. Caminhei apressado pelos grupos de
jovens, procurando por qualquer casal de mãos dadas. Avistei-os correndo do bar
Riviera para a Paulista. Ouvi o ônibus se aproximar e compreendi o motivo da
pressa. Atravessei a rua em disparada, quase caindo ao tropeçar no trilho do
bondinho. O motorista me viu pelo retrovisor e esperou. Entrei num pulo forte
que fez o coletivo balançar de leve. Parei diante da catraca e coloquei a mão
nos bolsos por puro instinto. O cobrador batucou uma moeda na gaveta enquanto
me observava. Fingi procurar o dinheiro pelo chão e então meu pai se aproximou
do outro lado da catraca e entregou o dinheiro para o cobrador. Fiquei perplexo
ao me tornar parte daquele momento.
Agradeci,
mas não ouvi sua voz, apenas acenou com a cabeça e voltou a se sentar com minha
mãe. Passei pela catraca e peguei um banco ao fundo, podendo observá-los sem
preocupação. Havia poucas pessoas no ônibus e conversavam sobre o festival. A
cidade era outra, a arquitetura, as ruas, os automóveis, as pessoas e seus
trajes.
O
ônibus diminuiu a velocidade de repente e parou no acostamento. A porta da frente
e a traseira foram abertas e quatro soldados entraram, uma dupla em cada porta,
com pistolas e cacetetes. Tentei agir como se estivesse tudo bem. Se pedirem os
documentos não terei nem o que fazer. Os soldados foram direto onde estavam
dois rapazes, alguns bancos à frente de mim. Os jovens levantaram as mãos sob a
mira das armas, desceram e foram direto para o fundo de uma Veraneio. O ônibus
seguiu viagem, meus pais olhavam nervosos pela janela. Um silêncio amedrontador
pairou durante o percurso. Algumas paradas depois, minha mãe se levantou e
apertou a sineta. Esperei descerem primeiro. Enquanto o ônibus seguia, me
atentei para a rua em que entraram e saltei no ponto seguinte.
Cheguei
a tempo de vê-los subirem a calçada a uns cem metros de mim. Me aproximei da
casa e fiquei à espreita, atrás da lixeira, mas como podia me deparar com a
polícia a qualquer momento, escalei uma aroeira no canteiro de divisão da rua,
ficando a uns três metros do chão.
A
luz no quarto de cima foi acesa e identifiquei seus vultos na cortina da
janela. Ela segurava algo em forma de disco. Meu pai deixou o quarto e quando
voltou, minha mãe penteava o cabelo. Fecharam a janela.
Menos
de uma hora depois, duas Veraneios passaram em baixa velocidade. Me encolhi entre
os galhos até ter certeza de que não pudessem mais me ver. Pouco antes das duas
da manhã, um homem caminhava pela rua carregando uma sacola no ombro, usava um
terno escuro e um chapéu de feltro. Seguiu até o fim da rua e voltou. Enquanto
retornava, retirou um lenço da sacola e o usou para cobrir metade do rosto,
como os bandoleiros de filmes de faroeste. Parou em frente à casa onde meus
pais estavam e só então observou ao redor. Pulou o muro com cuidado e se
dirigiu até o medidor de energia. Minha respiração acelerou e os músculos se
contraíram, provocando tremor nos ombros.
Ouvi
o estalo do botão e a luz da casa foi cortada. Desci da árvore sem fazer
barulho, não havia nenhum orelhão por perto. Peguei uma pedra polida que servia
como enfeite do canteiro e a coloquei no bolso da calça. Pulei o muro e vi a
janela com o trinco partido. Foi arrombada. Empurrei-a devagar, permitindo que
a luz da rua me desse a iluminação necessária. Minha garganta ficou seca. Tirei
os sapatos na intenção de diminuir o barulho e pulei para dentro da casa.
Ao
me aproximar da escada, ouvi o choro de minha mãe. O bandido falava algo
incompreensível naquela distância, mas num tom de discurso. Cheguei ao andar de
cima, não havia mais interferência da iluminação exterior, era apenas uma luz
vermelha se deslocando pela porta escancarada do quarto. Avistei meu pai
amarrado e amordaçado ao chão. A luz vermelha era percorrida nos olhos dele que
tentava desviar o rosto. Pela fresta da porta, vi o bandido deitado na cama e
minha mãe em seu colo. O maníaco apontava o revólver para o ouvido dela, sendo
obrigada a mover a lanterna na direção de meu pai.
—
Vermelho é a cor do diabo. — Disse o lunático — O diabo tá na luz, o diabo tá
no olho. Namoradinha nefasta. Pego o que não me deram.
Me
pus em frente à porta, num ponto onde o bandido não pudesse me ver.
—
Tem pombinha apertada... — o revólver estava agora por dentro do vestido dela —
Quero também outras joias. É um país rico de gente pobre. A política fiscal é
injusta. Quero ver essa pombinha molhada. O estado se fez omisso, agora eu sou
o câncer... O rico vai sentir a dor do pobre. Eu quero chupar cu. Onde tem
injustiça, tem violência. Não sou ação, sou reação. Namoradinho funesto. Eu rio
da desgraça que eu crio. Escrevo poema de olho fechado. A mídia me criou. Eu
roubo e o jornal vende. Quer autógrafo?
Meu
pai se arrastou para perto da porta e arregalou os olhos, assustado ao me ver.
—
Vira pra cá, senão enterro o ferro na florzinha.
Fiz
sinal de silêncio, mas o desespero o fez gritar abafado pela mordaça e se
arrastou em minha direção. Me afastei da porta ao ver a luz vermelha da
lanterna se aproximar de seu rosto. Era o bandido. Pisou nas costas de meu pai
e mirou o revólver em sua cabeça.
Saquei
a pedra do bolso e a arremessei na direção do maníaco. Acertei-o no rosto, o
que o fez cambalear e deixar a lanterna cair. Minha mãe pulou da cama e correu
para desamarrar meu pai. O disparo do revólver provocou uma ressonância seca no
quarto. Senti o estômago arder, uma dor passageira. Corri e empurrei o bandido
contra a parede, peguei a pedra no chão e houve um novo disparo que raspou em meu
ombro. Apedrejei sua cabeça por três vezes até o maníaco largar o revólver e
cair com as mãos cobrindo o ferimento. Gritei para chamarem a polícia. Meus
pais deixaram o quarto correndo.
Acertei-o
mais algumas vezes e só parei quando seu corpo ficou imóvel. A escuridão
naquele canto não me permitiu ver seu estado, mas pude ouvir a respiração
agonizada de quem se sufocava no próprio sangue. Meu estômago voltou a queimar.
Uma sensação terrível se formou diante de mim. Não sentia os membros e nem os
passos que dei até cair na cama. A lanterna ao chão apontava para meus olhos e
a luz vermelha me cegava. Num instante senti me deslocar em partículas.
Enfraquecido, deixei o pesadelo me dissolver. E enquanto um morria, o outro deixava
de existir.
Agora
eu sabia quem era o meu pai.
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